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Medicamentos para emagrecimento e canetas emagrecedoras: podem afetar rins, próstata e o aparelho geniturinário?

  • urocortavento@gmail.com
  • 6 de nov.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 7 de nov.


Nos últimos anos, as chamadas “canetas emagrecedoras” (como semaglutida, liraglutida, tirzepatida e outros agonistas do GLP-1) ganharam espaço nas redes sociais e nos consultórios. Muitos pacientes chegam perguntando se elas fazem mal aos rins, à próstata ou à função sexual, especialmente os homens acima de 40–50 anos.

Como urologista, vejo dois pontos importantes:

  1. A obesidade em si é um fator de risco para vários problemas urológicos.

  2. Os medicamentos para emagrecer têm perfis bem diferentes entre si — alguns podem até proteger rins e vasos, enquanto outros exigem mais cautela.

Vamos por partes.

1. Obesidade e aparelho geniturinário: o problema começa antes do remédio

Antes de falar da medicação, é importante lembrar que excesso de peso está associado a:

  • maior risco de hiperplasia prostática benigna (HPB) e sintomas urinários (jato fraco, noctúria, urgência);

  • mais casos de cálculos renais;

  • maior incidência de hipogonadismo funcional, queda de testosterona e disfunção erétil;

  • pior controle de diabetes, hipertensão e síndrome metabólica, que também prejudicam rins e vasos.

Ou seja: em teoria, perder peso tende a ser benéfico para o aparelho urinário e sexual, desde que isso seja feito com segurança.

2. Canetas emagrecedoras (agonistas do GLP-1): rins, próstata e função sexual

As “canetas” mais usadas hoje (semaglutida, liraglutida, tirzepatida e afins) pertencem à classe dos agonistas do receptor de GLP-1. Foram desenvolvidas para diabetes tipo 2, mas acabaram mostrando grande eficácia para obesidade.

a) Efeitos nos rins

A boa notícia: não há evidência de que essas canetas “estraguem” o rim. Pelo contrário, em pessoas com diabetes tipo 2 e doença renal, estudos grandes mostraram:

  • redução de Albuminuria;

  • menor risco de desfechos renais graves (queda importante de função, necessidade de diálise ou morte por causa renal);

Tanto que semaglutida e outros GLP-1 já têm indicação específica para proteção cardiorrenal em alguns cenários.

🔎 Onde entra o cuidado?Os principais efeitos colaterais são náuseas, vômitos e diarreia. Se o paciente passa mal, come pouco e bebe pouca água, pode desidratar — isso, sim, pode sobrecarregar os rins, sobretudo em quem já tem doença renal de base. Então:

  • manter boa hidratação;

  • monitorar creatinina em pacientes de maior risco;

  • ajustar dose com o médico se os sintomas forem intensos.

b) Efeitos na próstata e nos sintomas urinários

Até o momento, não há evidência de que os agonistas de GLP-1 aumentem o risco de câncer de próstata ou piorem a HPB.

O que sabemos é que:

  • obesidade e síndrome metabólica estão associadas a maior volume prostático e sintomas urinários piores;

  • a perda de peso e o controle metabólico tendem a melhorar sintomas urinários em muitos homens (menos noctúria, menos urgência).

Assim, indiretamente, emagrecer com segurança (seja com caneta, seja com mudanças de estilo de vida) pode ajudar a aliviar queixas urinárias, e não o contrário.

Até o momento, não há dados robustos ligando GLP-1 a aumento de PSA, maior risco de câncer de próstata ou piora de HPB. Os estudos de longo prazo continuam, então o acompanhamento médico e o rastreamento urológico de rotina continuam fundamentais.

c) Efeitos na função sexual e fertilidade masculina

Aqui vem uma surpresa para muitos pacientes: vários trabalhos sugerem que os agonistas de GLP-1 podem melhorar a função erétil em homens obesos ou diabéticos, muito mais pelo efeito indireto (perda de peso, melhora do controle glicêmico e da saúde vascular) do que por ação direta no pênis.

Alguns estudos também mostram melhora de:

  • parâmetros hormonais em homens obesos com hipogonadismo funcional;

  • fatores ligados à espermatogênese, em modelos experimentais.


Na prática do consultório:

  • quando o paciente emagrece, controla melhor o diabetes, dorme melhor e melhora a autoestima, a função sexual costuma acompanhar essa melhora;

  • não há, até o momento, um sinal consistente de que as canetas emagrecedoras causem queda de testosterona ou infertilidade masculina — mas os dados de longo prazo ainda são limitados, então o ideal é sempre individualizar.

3. Outros medicamentos para emagrecer e o aparelho urinário

Nem tudo é GLP-1. Outros fármacos usados (ou já usados) para emagrecimento podem ter efeitos diferentes sobre rins e vias urinárias.

a) Orlistat (bloqueador de absorção de gordura)

O orlistat reduz a absorção de gordura no intestino. Um efeito colateral pouco comentado é que ele pode:

  • aumentar a absorção intestinal de oxalato;

  • levar a hiperoxalúria, favorecendo formação de cálculos renais de oxalato de cálcio e, em casos raros, até nefropatia por oxalato (lesão renal).

Em pacientes com história de pedra no rim, doença renal crônica ou dietas muito ricas em oxalato, o uso de orlistat merece avaliação bem cautelosa.

b) Sibutramina e outros inibidores centrais do apetite

A sibutramina, que já foi muito utilizada, hoje é bem mais restrita por risco cardiovascular. Nos estudos de efeitos adversos, foram descritos:

  • dificuldade para urinar, aumento da frequência urinária e retenção urinária,

  • além de disfunção erétil e alterações de ejaculação em alguns pacientes.

Ou seja, além do coração, também pode ter impacto negativo no aparelho geniturinário em casos individuais.

Outras combinações centrais (como bupropiona + naltrexona) parecem ter menos efeitos diretos sobre rins, próstata e função sexual, mas os dados ainda são mais limitados — e sempre pode haver variações individuais.

4. Riscos gerais do “emagrecimento rápido” para o trato urinário

Independentemente do remédio utilizado (ou mesmo sem remédio), algumas situações ligadas a emagrecimento rápido podem afetar rins e urinário:

  • Desidratação por dietas muito restritivas, jejum prolongado ou vômitos/diarreia → aumenta o risco de cálculos renais.

  • Dietas hiperproteicas e ricas em sódio podem sobrecarregar os rins e também favorecer pedras.

  • Uso paralelo de suplementos, termogênicos e anabolizantes pode causar lesão renal e alterar hormônios sexuais.

Por isso, o ideal é que qualquer plano de perda de peso seja acompanhado de:

  • ingestão adequada de água;

  • ajuste de dieta (não só calorias, mas também composição);

  • monitorização de função renal, pressão arterial e exames metabólicos, principalmente em pacientes com comorbidades.


6. Conclusão: emagrecer pode proteger seus rins, próstata e função sexual — desde que seja do jeito certo

Os medicamentos para emagrecimento são ferramentas, não soluções mágicas. Usados de forma correta:

  • ajudam a tratar obesidade e síndrome metabólica;

  • podem reduzir o risco de complicações renais e cardiovasculares;

  • tendem a melhorar a qualidade de vida urinária e sexual, especialmente em homens acima de 40–50 anos.


Mas a escolha do remédio certo, da dose certa e do tempo de uso precisa ser feita caso a caso, depois de uma avaliação completa.

Este texto é informativo e não substitui consulta médica.Em caso de dúvidas sobre uso de canetas emagrecedoras, rins, próstata ou função sexual, procure sempre avaliação individualizada com um médico especialista.

 

 
 
 

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